quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Marília

Foi num dia três de novembro que partiste. Fazia sol. Quem poderia imaginar que num dia tão bonito te ias pôr a caminho do desconhecido? Fazia sol e a luz da manhã cegava-me enquanto guiava rumo ao hospital. Ainda na incerteza. Tinhas piorado, disseram-me ao telefone. Piorado. Agora sei. Não caio noutra. Ou caio, talvez. Prefiro o engano. Pelo menos até chegar a inevitável certeza.
Passaram onze anos, já e fazes-me falta. Fazes-me tanta falta como no dia em que partiste. E como no dia seguinte. E como em outros tantos dias.
Ouço-te o riso e os versos que compunhas para contar coisas da vida. Ouço-te as lengalengas, mil vezes repetidas aos teus netos. Vejo as tuas mãos, a forma de cada dedo, o contorno das unhas. Vejo o teu olhar, doce, e junto à sobrancelha aquela cicatriz que tinhas de menina e de cabriolice. E o cabelo escuro salpicado de escassa prata, ao contrário do pai.
E tenho saudades das histórias que deixaste por contar. E tenho saudades do teu abraço e do último beijo que ficou por dar.
Tenho saudades, mãe.

8 comentários:

  1. Olá Luisa,

    Conheço essa história...
    Aconteceu comigo também, mães...elas nunca deveriam partir antes que os filhos...

    Fica Bem!!!
    1000 Beijokinhas

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  2. Entendo-te, embora ainda tenha a felicidade de ter a minha mãe viva e de boa saúde. Mas o meu pai já partiu há 26 anos, de forma inesperada e brutal...

    Beijinhos!

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  3. Luizinha:
    Como te entendo!
    A tia Marília e a tia Alzira,foram
    tias que estiveram sempre mais presentes, enquanto estive por aí.
    Não sei bem porquê, mas havia uma ligação especial com elas e ainda hoje tenho pena de as ter perdido tão cedo !
    Beijinhos.Cá vos espero

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  4. Sempre me lembrarei da voz dela no telefone, tao longe e tao perto, a me desejar felicidades para o nascimento da minha filha. Mas a voz dela era fraca. Chorei quando me despedi et desliguei o telefone. Ainda chorei mais quando a minha intuiçao se confirmou cinco dias mais tarde.
    Ainda bem, tenho montes de lembraças alegres da minha madrinha e ainda tenho baba a correr da boca quando me lembro das fatias que ela fazia ao pequeno almoço. Beijinhos

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  5. Há saudades em eterna permanência...
    Desculpe, Luísa, só agora vi.

    Um beijo

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  6. Tão linda, a memória e a saudade que guardas da tua mamã! ...apesar de doer, é bom teres esse tesouro que só as mães podem deixar... =)

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