sábado, 18 de dezembro de 2010

A cabine telefónica

Acho que a partir do momento em que o homem passou a dispor de um membro suplementar – o telemóvel – foi-se esquecendo da cabine telefónica. Até nem sei se alguém ainda dá uso a essas estruturas, provavelmente em vias de extinção. Na verdade, para que servem hoje as cabines telefónicas?

No entanto lembro-me de um tempo em que nem sequer telefone fixo havia na minha casa. Às vezes fico a pensar em como era possível viver sem telefone. Mas vivia-se. E bem. Então sim, uma cabine telefónica por perto fazia todo o sentido. Uma houve que não mais me sairá da memória.

Vivíamos, eu e os meus pais, os últimos dias de emigração em França quando precisei de fazer uma chamada telefónica relacionada com qualquer trâmite burocrático do nosso regresso a Portugal. Eu tinha 16 anos e, nessa tarde de um Sábado de Junho cinzento, dirigi-me à cabine telefónica quer se encontrava na “Place Carnot”, onde às Quartas-feiras se realizava um mercado semanal. Naquele Sábado à tarde a praça estava absolutamente vazia. A cabine telefónica tinha uma daquelas portas articuladas como um fole, mas só com duas partes. Quando acabei de fazer a minha chamada quis sair da cabine mas nem por nada consegui abrir a porta. Tentei. Voltei a tentar. Fiz força. Nada. O tempo passava. Só não passava ninguém pela praça que me pudesse acudir. Em desespero, agarrei numa moeda e liguei o número de emergência. Passados alguns minutos, chegou um carro de bombeiros piscando. Parou no cruzamento e saiu de lá um dos homens que se dirigiu à cabine e, com a maior das facilidades, me abriu a porta. Era só uma questão de jeito. E eu só queria ter podido desaparecer da face da terra tal a vergonha e o incómodo que senti naquela situação.

8 comentários:

  1. Quando li “homem” e “membro suplementar” fiquei a pensar...isto deve tratar-se de uma nova espécie : )
    Imagino o que sentiu mas também imagino o prazer que os bombeiros teriam sentido em “salvar” uma jovem em apuros.

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  2. Por cá, para que servem? Francamente não sei... aqui na cidade, com tanta falta de árvores... devem dar um jeitão aos canitos e sempre escapam... as rodas dos automóveis lol

    Bjos

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  3. As cabines telefónicas hoje em dia só servem para o super-homem mudar de roupa.

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  4. Catarina,
    É que o telemóvel parece ter-se tornado parte de nós. Andamos sempre agarrados a ele e se por acaso fica esquecido em casa, passamos o dia inquietos. Um absurdo!

    Isa,
    Só para isso... mas parece-me que estão mesmo a desaparecer.

    El Matador,
    Até o Super Homem vai ter que arranjar uma alternativa.

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  5. Ah !Ah ! Essa é que eu nao sabia ! Acho que a cabine ainda existe mas logo verifico. Em todo caso, que sorte tivestes, sao tao bonitos os bombeiros ...
    Beijinhos da prima

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  6. Luísa,
    Pode ter ficado cheia de vergonha, mas ficou uma bela história para a posteridade. :)
    Quanto à questão do telefone, já estamos tão reféns que viver sem ele parece quase impossível. Mas não é. Apesar de ser uma excepção, tenho um amigo geólogo que se recusa a usar telemóvel, e, isso eu garanto, a vida dele flui com a maior das naturalidades.

    beijo :)

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  7. AC,
    Pois acredito que esse seu amigo seja feliz... :)

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  8. São casos cada vez mais raros mas eu também tenho uma amiga que continua a recusar esse membro. E sim, é feliz, não é incomodada a toda a hora e em qualquer lugar... Para ela as cabines telefónicas ainda são importantes. E a verdade é que estão mesmo a desaparecer! Algumas das que ainda restam, estão vandalizadas...
    Mas ainda fazem falta, sim! Aconteceu-me há já uns anos, deixei cair o telemóvel e ficou sem microfone, de modo que eu ouvia o que me diziam mas do lado de lá ninguém me ouvia. E eu estava em Lisboa, precisava mesmo de responder a algumas das chamadas que estava a receber. Pois não imaginas o que andei à procura de um telefone que pudesse usar!!!!
    Rog

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